terça-feira, 24 de abril de 2012

MODELOS E TENDÊNCIAS EVOLUTIVAS NOS SISTEMAS EDUCATIVOS EUROPEUS


Á educação cabe saber explorar todos os talentos e tesouros escondidos no interior de cada ser   humano. (Delors, 1996)

  


Segundo Canário , o   espetro da globalização que invadiu o universo da economia atinge inexoravelmente o sistema educativo. A velocidade transaccional da informação e dos transportes permite a troca de produtos, serviços e culturas entre países. E, é nessa fronteira aberta  e esbatida que também passam problemas e crises como a da educação comum em variadíssimos países. Perante esta circulação livre, veloz e multiespacial o mundo surge " dominado por uma racionalidade económica onde o sentimento de pertença  se define por relação com um mercado mundial e deixa de se definir pela pertença a uma comunidade politica" (Canário, 2006:32) .  Este autor refere que em paralelo com os processos de reorganização empresarial que afetam as organizações públicas, a escola é " marcada por uma tensão contraditória entre modos de gestão participativos e modos de gestão neotayloristas, com reprecussões negativas na profissião docente" ,  no desempenho dos alunos : elevado insucesso e abandono escolar,.. e, na relação entre educação e emprego.  A dificuldade do  estado em resolver os problemas  dos sistemas educativos, acentua o abismo criado entre as escolas  e  sociedade multicultural, pluralista, tecnológica e global. Reencontrar novos métodos, novos paradigmas, uma nova visão de escola é tarefa que a todos nos deve unir como forma de encontrar soluções e respostas  multiplas. Será que o caminho passa pela desconstrução de saberes? ou será que esse mesmo caminho envolve diferentes e diversos saberes reunindo num único debate os nossos saberes adquiridos no passado e aqueles que pela descoberta partilhada vamos construindo?

Será que o caminho  da escola é a continuação da colagem ao modelo de fábrica?


Atualmente, o velho modelo de fábrica em que o professor se assumia como o patrão, referido por Alvin e Toffler  já não tem espaço na sociedade da informação e do conhecimento.  A esta questão, os autores acabaram por responder citando Bill Gates“ não podemos reformar o sistema de ensino público. Nós precisamos de substituí-lo completamente, porque o sistema foi escolhido para preparar as pessoas para ontem e não para o amanhã!”...Neste sentido o verdadeiro tesouro que a educação encerra está por descobrir ... Mas, não estaremos nós nesse processo contínuo de descoberta?

 Nesta nova sociedade a educação faz apelo para uma construção social e para uma negociação  politica, económica e cultural, partilhada, pois," é pela edificação de comunidades educativas plurais, regidas por regras de participação democrática, onde a negociação dos diferentes pontos de vista se privilegia como método e se recusa a violência ou o autoritarismo como formas de resolução dos conflitos naturais, que se educa para uma plena cidadania” (Delors, 1996: 195).


 
Ainda  como resposta à questão colocada, poderemos recorrer ao vídeo de Ken Robinson que defende uma não uma educação  instrumentalizada em favor da industrialização  mas uma educação promotora de desenvolvimento pessoal e social de cariz humanista. A educação deverá promover a criatividade e a aprendizagem plurissensorial, fazendo apelo aos diferentes tipos de inteligência. Obviamente que as crianças de hoje não são de todo iguais às crianças  de ontem...o mundo à sua volta mudou, as fontes de informação são inúmeras e diversas...o seu saber é múltiplo, a sua inquietude torna-o num ser amplamente curioso  e imaginativo pelo que rapidamente poderá ser conotado com sendo portador de ADHD... e o sistema acaba por anestesiá-lo com ritalina, atrofiando e impedindo o seu crescimento natural. O autor menciona que a escola deve apostar nas motivações individuais dando oportunidade a cada aluno de consolidar as suas aprendizagens, desenvolvendo as suas competências numa prática reflexiva e dialética para que todos possam descobrir, reanimar e fortalecer o seu potencial criativo.
Pela sua  apresentação Ken Robinson promove do oficio de aprender, assente na reflexibilidade das operações cognitivas que se realizam num determinado momento de aprendizagem. Perante tais registos a escola precisa de se reencontrar com a sua sociedade e com a sua comunidade educativa de forma  a resistir e a renovar-se continuamente de modo inclusivo, plural e humano, possibilitando a produção de novas formas de conhecimento e outros ritmos de aprendizagem.

Onde estão as chaves do tesouro: a caixa que contem o segredo da educação?

Mudar de pradigma , de linguagens de praticas e atitudes é talvez o desafio que enfrentam os sistemas eductivos, os docentes, os alunos, os pais e politicos. hoje um novo vocabulário deve constar de programas, currículos e  projetos , modelos e metodologias,...tais como produtividade, competitividade, eficácia, competência, empregabilidade. Educar surge conotado com a ideia e a prática de formar, sempre numa perspetiva, continua, societal e processual, ao longo da vida ( Canário, 2006).
Paralelamente, Roberto Carneiro apela para  uma desconstrução de saberes, para voltar  reconstruir de novo, sendo necessário uma forte capacidade de diálogo e  de liderança assente numa coerente e eficaz visão de futuro. Este autor (1994:10) descreve que  este tipo de liderança deve entender a base da sociedade numa dimensão tridimensional:
" - sociedade do risco- perspetiva o espírito empreendedor, as formas de trabalho flexíveis e precárias pressupõem, um modelo de educação mais autónomo, menos homogéneo e mais diverso e plural;
  - sociedade ativa- como nova utopia do séc. XXI, na qual todos têm o direito a uma atividade e à participação nas tarefas de desenvolvimento da comunidade;
 - sociedade educativa- dominada pelo paradigma humano e da capitalização cultural ao invés da omnisciência económica." 

Em contrponto, este autor  (1994) , apela ainda para uma simbiose complexa entre aprendizagens novas e antigas e defende um paradigma humanista assente em princípios solidariedade e de competitividade para redesenhar os sistemas educativos  e responder  aos desafios da mudança, da incerteza e do futuro. Propõe assim :
1- Uma Trilogia de valores referentes ao aprender a viver juntos, aprender a aprender juntos e aprender a crescer juntos;
2- Um Novo Profissionalismo que valoriza :
2.1 - As competências metacognitivas e horizontais da eficácia alargada  que resista quer ao tempo, quer às mudanças aceleradas
2.2 - Um conjunto de prioridades educativas relativas às competências comunicacionais, relacionais, criativas, tecnológicas, negociais, estéticas, éticas, comunitárias e de cidadania
2.3 - A capacitação para a constante formulação de hipóteses inovadoras como recusa de respostas únicas e absolutas,
2.4 -  exercício de uma aprendizagem continuada e autónoma decorrente de uma permanente avaliação pessoal de insuficiências
Neste âmbito, pela operacionalização de tais propostas a educação estaria a contribuir ativamente para a emergência de uma nova renascença, produzida na intersecção das artes, da economia e do humanismo, da eficácia e dos valores universais, das ciências, da razão e do mistério(Carneiro,1994:10)

 
Também o Conselho da Europa apresenta alguns  indicadores dirigidos aos diferentes sistemas educativos, visando a competitividade  e a coesão social da comunidade Europeia no contexto internacional. Nomeadamente: O desenvolvimento de competências essenciais por todos os alunos; A formação do o aluno para a aprendizagem ao longo da vida;  O crescimento económico sustentável, aumentando o sucesso escolar e a qualidade das aprendizagens;  A equidade na educação; Uma escola inclusiva e democrática; O desenvolvimento uma cidadania ativa preparando os alunos para uma, participação responsável, colaborativa e confiante; - A qualidade da formação inicial e contínua do professor;  O desenvolvimento das comunidades escolares; Uma lideraa com visão de futuro; Uma avaliação dos sistemas tendo em vista práticas de melhoramento;Neste contexto, Canário defende que a ideia é transformar os problemas em ação e propostas educativas e promover práticas de colaboração e partilha na comnidade educativa ( seja ela presencial ou virtual). O autor defende que os principais recursos da Educação são as pessoas, os saberes e as experiências significativas de mobilização, sendo que é difícil não haver envolvimento quando as pessoas se tornam sujeitos e atribuem um sentido positivo ao trabalho que realizam.


O sonho que nos comanda: a utopia da vida!

As novas sociedades têm vindo a transformar as dimensões sociais, politicas, éticas, económicas e emocionais da existências humana. Esta modificção  impõe-nos o dever de compreender o melhor o "eu ", o outro e o mundo. Esta ideia,       "  levou a comissão  europeia a dar mais importância a um dos quatro pilares por ela considerados como a base da educação trata-se do Aprender a viver juntos, desenvolvendo o conhecimento acerca dos outros, da sua história, tradições e espiritualidades. E a parti daí criar um espirito novo,..., que conduza à realização de projetos comuns ou, então, a uma gestão inteligente e apaziguadora dos insvitáveis conflitos. Utopia, pensarão alguns, mas utopia necessária, utopia vital para sair do ciclo perigoso que se alimenta de cinismo e da resignação."

Bibliografia
Canário, Rui (2006) - A Escola e a Abordagem Comparada. Novas realidades e novos  olhares, in: sisifo.fpce.ul.pt/pdfs/03-RCanario.pdf (consultado em  22/4/2012)
Carneiro.R. (1994) – A evolução da economia e do emprego. Novos desafios para os sistemas educativos no debaldar do sec. XXI . in: http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/mod/resource/view.php?id=1166181

Vaniscotte, Francine - Les systèmes éducatifs en Europe, in: : http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/mod/resource/view.php?id=1166031 (consultado em 22/4/2012)
 Comissão das Comunidades Europeias (2006) - DOCUMENTO DE TRABALHO DOS SERVIÇOS DA COMISSÃO ESCOLAS PARA O SÉCULO XXI, in: http://ec.europa.eu/education/school21/consultdoc_pt.pdf (consultado em 22/4/2012)