segunda-feira, 14 de maio de 2012

OS SISTEMAS DE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO PARA A EUROPA DO CONHECIMENTO


Aprendizagem ao longo da vida : uma exigência social ou uma necessidade individual?


...Talvez o segredo  da educação resida na forma simples como interpretamos e sentimos a complexidade dos sistemas. Mas também não podemos deixar de ser ambiciosos para alcançar o bem estar individual e social. Sei que os contextos não são, de todo, fáceis, mas agrada-me saber o que precisamos melhorar , mesmo que o caminho se revele, ainda ( ou cada vez mais) impreciso e indefinido.  Foi nesta conjuntura social, politica e económica que os Ministros da Educação dos Estados  Membros da UE fixaram  áreas prioritárias para melhorar o desempenho dos sistemas educativos nomeadamente: a formação de professores, a aprendizagem de línguas, TIC, matemática, ciência e tecnologia, a cidadania activa e a coesão social .
Na verdade, não  podemos esquecer que a maioria dos europeus passa pelo menos nove ou dez anos na escola. É aqui que eles ganham os  conhecimentos básicos, as atitudes, os valores e as competências necessárias ao longo de suas vidas. Torna-se pois, premente que a escola os prepare  para o mundo moderno, de forma  a garantir sociedades abertas e democráticas e pessoas com formação em cidadania,  em solidariedade e em democracia participativa. O objetivo é esbater as desigualdades e primar pela excelência  e eficácia na produção de competências relativas ao saber aprender, aprender a fazer, aprender a conhecer, aprender a trabalhar juntos. Em suma aprender a saber viver: uma necessidade dos individuos e das sociedades. Neste sentido, " um dos principais papéis reservados à educação consiste, antes de mais, em dotar a humanidade da capacidade de dominar o seu próprio desenvolvimento. ela deve de facto, fazer com que cada um tome o seu destino nas suas mãos e contriubua para o desenvolvimento da sociedade em que vive, baseando o desenvolvimento na participação responsável dos individuos e das sociedades" Delors, 1996:73). A este prpósito o PNUD ( Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) defende uma educação para o desenvolvimento humano. Este desenvolvimento reúne simultáneamente a produção e distribuição de bens e serviços à amplificação e utilização das potencialidades humanas abordando todas as questões relativas à sociedade ( crescimento económco,trocas, empego, liberdades politicas,valores culturais, etc,...)  numa visão humanista. ( Idem,1996:72)

Esquema 1- Novos objetivos para a Educação  e Formação na União Europeia

...não restam dúvidas de que a sociedade se encontra sujeita a grandes mudanças culturais, económicas e tencológicasnexigindo que o sistema edcuativo defina novos objetivos e responda às necessidades das pessoas de hoje. E,  hoje, não chega só educar para o emprego. Hoje exige-se uma nova visão educativa que preveja, também, a educação para a vida, a educação para o mundo, a edcuação para o desenvolvimento pessoal e deucação para os tempos livres. Neste âmbito,  As escolas pùblicas apresentam um papel preponderante e priveligeado na  prepararação das gerações do futuro, para " ensinar um conjunto de valores, de disposições e de sentidos de responsabilidade global que se estendem para além das fronteiras desta economia." Hargreaves (2003:18)

Educação e Formação : Uma visão e práticas partilhadas na União Europeia 


O quadro europeu de competências essenciais para a aprendizagem ao longo da vida, lançado no final de 2006, identifica e define as competências e conhecimentos importantes necessárias a todos os cidadãos, a fim de conseguir o emprego, a realização pessoal, a inclusão social e a cidadania activa no mundo de hoje em rápida mutação.
Para além das competências tradicionais já referenciadas
(tais como a alfabetização na língua materna, matemática, conhecimento de línguas estrangeiras, ciências e habilidades de TIC), o quadro de Competências essenciais abrange também outras capacidades, como aprender a aprender, competência social e cívica, tomadas de decisão e iniciativa , empreendedorismo, consciência cultural e auto-expressão.
Assim, o tratado de Lisboa reúne très grandes eixos de intervenção: aumentar a qualidade e a eficácia da educação e formação, abrir os sistemas educativo e formativo ao mundo esxterior e, failitar o acesso de todos os individuos aos sistemas.
 É nesta conjuntura marcada pelas competências a alcançar e pelos  objetivos delineados, que toda a educação e formação na UE deve apoiar e investir de forma  a gerar oportunidades reais para todos as crianças, jovens e adultos e a contribuir com eficácia para o desenvolvimento de uma escola mais justa, democrática, inovadora, actual, critica, aprendente e reconstrutora.  



Esquema2: Educação e Formação: Eixos estratégicos da Europa

 

Competências ou objetivos?

Competência é  entendida como o saber em uso ou saber em acção, isto é, como o saber usar os vários saberes/conhecimentos de forma integrada, estabelecendo o ponto de ligação entre a escola e a sociedade. É o produto final da operacionalização dos objetivos, corporizados nos conteúdos, que se traduzem  nas aprendizagens dos alunos. Estas  conduzem o aluno à ação, na construção de novas aprendizagens, na interpretação dos sinais da sociedade ou atuando sobre ela. Nesta prespetiva, Roldão & Gaspar(2007) assumem competência como o saber que se traduz na capacidade efectiva de utilização e manejo – acumulados. Poderemos, então dizer que competência se refere à prática de conhecimento, pelo que se torna necessário “colocar o aluno em situações complexas que exijam treino e mobilização dos seus conhecimentos: um enigma a elucidar, um problema a resolver, uma decisão a tomar, um projeto a conceber e a desenvolver”(idem, 2007:13).

Segundo Roldão (2003:22), a competência apresenta uma relação intrínseca com o (s) objectivo(s) definidos ou seja, “Competência é o objectivo último dos objectivos que para ela contribuem” .Sendo assim, a competência não substitui os objectivos, pelo que estes necessitam de ser delineados claramente em função do” seu para quê?” . Esta questão será colocada como forma de sinalizar o tipo de competência (geral ou especifica / disciplinar ou transversal) que pretendo construir ao definir determinado objectivo.
 Neste âmbito Degallaix & Meurice (2008:18) referem que competência disciplinar são competências que se exercem numa determinada disciplina escolar. E competência transversal “ constitui não só os procedimentos fundamentais do pensamento, transferíveis de uma matéria para outra, mas engloba igualmente todas as interacções sociais, cognitivas, afectivas, culturais e psicomotoras entre o aluno e a realidade que o rodeia” . Sendo assim, um aluno competente é um individuo que , sabe fazer, como fazer, em que ordem fazer e em que situações fazer…


 

Contextos sociais da Europa e o quadro estratégico para a Educação e Formação


O quadro estratégico para a cooperação europeia na educação e formação  reforça a ideia de que a alta qualidade de pré-primário, primário, secundário, superior e profissional são fundamentais para o sucesso da Europa. No entanto, num mundo em rápida mudança, a aprendizagem ao longo da vida precisa ser uma prioridade, constituindo-se como a chave para o sucesso do desenvolvimento económico, de emprego e inclusão social, uma vez que possibilita , que todos os individuos participem, de forma  plena na sociedade .
Precisamos, assim " de desenvolver as nossas aptidões e competências ao longo das nossas vidas, não apenas para a nossa realização pessoal e a nossa capacidade de participar activamente na sociedade em que vivemos, mas também para sermos capazes de ter êxito num mundo laboral em constante mudança." Ján Figel

Esta visão da União Europeia concebe politicas comuns para apoiar as acções nacionais ao mesmo tempo que prevê a abordagem a desafios globais, tais como: envelhecimento das sociedades, os défices de competências entre a força de trabalho e da concorrência global. Essas áreas exigem respostas conjuntas, assentes num conjunto de objectivos estratégicos que fazem apelo a uma partilha benéfica de experiencias e cooperação entre todos os Estados Membros.
 
Este quadro estratégico ( da União) prevê que a operacionalização de tais objectivos possa ocorrer pelo desenrolar de um conjunto de atividades com vista a atender as áreas prioritárias em cada um dos diferentes níveis de educação e formação - a primeira infância, ensino básico, secundário, profissional e educação de adultos - com base nesses objectivos globais. Assim, são relevantes para todos os níveis da educação, a promoção do multilinguismo, a criatividade, a inovação e adopção das TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação).

Com estas medidas a Comunidade Europeia definiu um conjunto de parâmetros de referência para 2020, nomeadamente:

• pelo menos 95% das crianças entre quatro anos de idade e a idade de início do ensino primário obrigatório devem participar na educação infantil;
• a parcela de alunos dom 15 anos  com competências insuficientes em leitura, matemática e ciência deve ser inferior a 15%;
• a taxa de abandono precoce de educação e formação deve ser inferior a 10%;
• A parece-la de adultos com 30-34 anos de idade com nível educacional superior deve ser de pelo menos 40%;
• uma média de pelo menos 15% dos adultos (grupo etário 25-64) devem participar na aprendizagem ao longo da vida



 Seremos nós capazes de gerir este desafio?...Teremos nós a sabedoria de fazer caminho , caminhando ?!
Temos o puzzle dos sistemas ,… o encaixe das peças certas nos lugares certos é tarefa que a todos nos cabe cumprir, sempre de forma partilhada!



 

Novas tecnologias: Quem resiste a esta  ferrameta pedagógica ?

Relativamente ao uso das NTIC Morrish ( citado por Gairín, 2007) definiu um conjunto de fatores que refletem as possíveis resistências à integração efetiva e pedagógica destes recursos no contexto escolar:
- O facto de a temática se encontrar excessivamente centrada em compromissos imediatos , o que faz desenvolver nos professores um sentimento de insegurança por não conseguirem acompanhar o ritmo que estas mudanças exigem;
-A representação mental dos professores de que a integração e uso das NTIC nas escolas fazem parte de uma vontade politica, mais do que de uma vontade pedagógica;
- Os conceitos pré-adquiridos de alguns professores que consideram que as novas tencologias se referem ao uso das ferramentas básicas: Word, power point, excel,...e, que a formação que fizeram nesta Àrea chega perfeitamente. Tal atitude, encontra-se associada a um baixo investimento na actualização dos professores e a um delicado problema de resistência do coletivo docente ao uso sistemático dos sitemas tecnológicos na sala de aula - tecnofobia;
- A relação professores-espaço : os professores aprenderam a fazer parte dos espaços que conceberam...mudar os espaços ( espaços virtuais) é quase sempre desenraízá-los, desalojá-los e desenhar desequilibrios( E o que os professores  sempre o que procuraram foi o contrário, a estabilidade);
- As necessidades de aprender a desaprender para voltar a aprender de novo, exigindo que os professores se desapeguem dos velhos modelos educativos e se vinculem noutros mais atuais e inovadores;
- A prática pedagógica onde se enraíza o individualismo e a diretividade impõe-se, ainda como modelo. Neste contexto, o aluno "ingere" conceitos impostos, tornando-o num passivo consumidor de ensinamentos e cada professor gere a sua formação sem preocupação em aprtilhar novos conhecimentos e novos saberes;

Neste dominio, Canavarro (1999) defende uma abordagem STS ( Science-Technology-Society) do ensino que permita um desenvolvimento de competências que possibilitem aos aprendentes um papel consceinte e ativo nas sociedades. Solomon (1995, citado por Canavarrro, 1999:120) refere que " num trabalho de reflexão acerca do ensino da ciência e da cultura cientifica na Europa, se alude explicitamente,à relevância da ciéncia para o dia a dia e da relação da ciência com a tecnologia, como dois pontos fulcrais para o desenvolvimento da Europa..." esta abordagem implica metodologias pedagógicas inovadoras, construtivas, interativas e colaborativas "que utilizam a tecnologia como fator de ligação entre ciência e sociedade, ..., tornando o estudante mais habilitado para compreender e ajudar a resolver determinados problemas sociais."( Idem, 1999:124)  Assim,  embora,  já se tenha feito algo no âmbito do uso pedagógico  e curricular das NTIC, penso que há ainda muitas  descobertas e aprendizagens por fazer,...

Insucesso e abandono escolar precoce: um lamento da nossa sociedade!?

Situação preocupante é o facto de hoje( em pleno séc.XXI) existirem muitos pais sem saberem ler nem escrever … O que implica que as expectativas destes em relação aos seus filhos sejam excessivamente baixas. Lembro-me da alegria de um aluno (11anos), com dificuldades de aprendizagem,  quando recebeu o elogio do pai por este lhe ter lido uma pequena mensagem no seu dia de anos. O que para nós pareceu mínimo, para aquele pai pareceu excelente, pois o seu filho tinha feito o que ele nunca soubera fazer. Resta-nos saber como motivar estes adultos para formação e reabilitação pessoal e profissional com vista à integração no mercado de trabalho, (pois tal como referem vários estudos) estas pessoas encontram-se quase todas ao abrigo do Sistema de Rendimento Social de Inserção sem perspetivas de emprego e de futuro… A situação agrava-se quando parece existir uma reincidência familiar nas situações precoces de insucesso e abandono escolar. Inverter esta situação não parece, de todo, tarefa fácil principalmente em grupos de população que vivem na margem do que é politica e socialmente correto, onde para além da exclusão social agora, sentem também a exclusão tecnológica e ciberespacial provocada pela quebra digital.  
Neste sentido, as propostas do Plano Nacional de Emprego (PNE2005/2008) dirigem-se para os mais jovens no incentivo ao aumento da frequência dos cursos tecnológicos e profissionais ( Tal como acontece na Suécia, Finlândia ou Alemanha).. Relativamente às politicas dirigidas para os adultos continua-se a apostar na educação/formação de adultos (EFA) e no reconhecimento, validação e certificação de competências escolares ou profissionais (RVCC) com o intuito de aumentar os níveis de qualificação da população portuguesa  e evitar o fosso tecnológico e combatendo a fractura digital.Tais medidas procuram reduzir a taxa de desemprego uma vez que os níveis de escolaridade habilitações aumentam. Resta-nos agora, operacionalizar tais propostas ou quiçá reinventar outras... 


Bibliografia


Canavarro, J. (1999).  Ciência e Socieade. Coimbra: Quarteto Editora.

Delors, J. (1996). Educação: Um tesouro a Descobrir. Lisboa: Edicções Asa.

Gaspar, M.I.& Roldão, M.C. (2007) – Elementos do Desenvolvimento Curricular. Lisboa: Universidade Aberta.

Hargreaves, A. (2003). O Ensino na Sociedade de Conhecimento - A Educação na era da insegurança (Janeiro de 2004,1ª ed.). (J. Á. Lima, Trad.) Porto, Portugal: Porto Editora.

Degallaix & Meurice 2008).Abordagens Didáticas da Interdisciplinaridade. Lisboa: Horizontes Pedagógicos.
Roldão, M.C C(2003) – Gestão do Currículo e avaliação de competências .  Lisboa:Editorial Presença
Gairin Sallán (2007) - Las implicaciones organizativas de las nuevas tecnologías. http://www.campus.iup.es/ ( retirado em agosto, 2008) 
Medina (2008).  Plano Nacional de emprego : Uma estratégia com resultados (retirado 16 de maio de 2012)  http://hdr.undp.org/fr/rapports/mondial/rdh2011/
Rapports sur le développement humain (2011) (retirado 16 de maio de 2012)   http://www.gep.msss.gov.pt/estudos/pne/pne05_ra_pt.pdf
http://ec.europa.eu/education/lifelong-learning-policy/school_en.htm
http://ec.europa.eu/education/lifelong-learning-policy/key_en.htm
http://hdr.undp.org/fr/rapports/mondial/rdh2011/